Ele não morreu por causa do Whiskão que tomava todo santo dia, entre uma conversa e outra com os amigos que passavam por lá pra jogar conversa fora. Nem muito menos morreu por causa de tanta gordura que consumia nos inúmeros churrascos que fazia para seus amigos às sextas-feiras, após o expediente regado com muito samba. Não teve diabete, infarto, cigarro, pressão ou qualquer coisa que o valha para o derrubar. Viveu intensamente, deixando seu cheiro inconfundível por onde passava. Amante de perfumes, andava sempre com um no porta-luva do carro (outra paixão incontestável) e na gaveta da mesa do trabalho… Apostava alto. Jogava alto. Afinal o que é a vida, senão correr riscos? Conquistava todo mundo por onde passava, sempre simpático, extrovertido, divertido, brincalhão, piadista, andava sempre na linha, impecável, e ainda dizem que tinha fama de mulherengo. Mas, com todas estas qualidades, seria quase que impossível não ser notado por tantas. Era o cara. Homem com H, fazia e saia encarando o mundo de peito aberto. Homem de verdade como poucas vezes você encontrará em sua vida. Ajudava muita gente, abraçava o mundo, lutava pelo que acreditava e tinha sim suas crenças. Se apegava em seu amuleto, a tal proteção que lhe falhou naquele dia. Naquele fatídico dia. Por um descuido do destino, não teve tempo de mais nada. Naquela fração de segundos, percebeu o peso que tem uma escolha errada, dentre tantas certas que já fez. E partiu, após o último gole do seu Whisky predileto, depois de completar sua última sexta-feira, pouquíssimo tempo antes do que imaginava. Mas com a certeza de que viveu intensamente, cada curva que sua vida fez, cada segunda-feira, cada telefonema, cada novo bom lugar que entrava, sem se preocupar com a conta que um dia chegaria… E desventurados sejam aqueles que acharem que nada disso valeu a pena no final. Se eu fechar os olhos, consigo ouvir ele dizendo, com seu olhar seguro, antes de sua risada mais sincera: VALEU CADA SEGUNDO.