A verticalidade com que vem se expressando durante os últimos dias corrói à todos em sua volta. Lá está ela chorando desesperadamente e ininterruptamente por quatro horas. As pessoas em sua volta não estão acostumadas a vê-la assim. Aquela inundação toda, nada tem haver com a sua essência. Simplesmente não combina. Ela veste um sorriso e um olhar cativante todas as manhãs, canta, dança, interpreta, fala, brinca, se diverte e diverte a todos, todo santo dia. E então, quem seria aquela que habitou abruptamente o seu EU?
As pessoas não entendem tamanho desespero, surpreendem-se e a abraçam, pedem para ela parar, para ela contar o que de tão grave está acontecendo. Lhe trazem um copo de água com açúcar e ela ainda em prantos pergunta se adoçante não faria o mesmo efeito, porque de tanta água com açúcar vai acabar engordando. As pessoas sorriem aliviadas. Parece que está voltando ao normal. No dia seguinte, do nada, mais lágrimas. Mas desta vez com redução de duas horas. Água com açúcar, calmante, insônia, angústia, outro calmante, coca-cola, mais açúcar e cama, da onde não tem forças para se levantar e da onde ainda arruma forças para se levantar.
Causa? E precisa?… ela pergunta.
Mas não é normal, não é natural chorar por chorar.
Parece até coisa feita, energia mandada de quem quer derrubar e se for, fazer o que? Mas esta chuva vai passar.
Ela se erguerá novamente, olhará enfim para frente e terá tudo do que sempre imaginou. Alguém duvida?